Um registro da transição entre o Gondwana e a crosta do Atlântico Sul no magmatismo toleítico intrusivo do Domínio Tectônico de Cabo Frio, Sudeste do Brasil

Autor Karine Zuccolan Carvas
Orientador Leila Soares Marques
Tipo de programa Doutorado
Ano da defesa 2022
Palavras chave Abertura do Atlântico Sul, Ruptura continental, Hidrotermalismo, Paraná-Etendeka, Geocronologia 40Ar/39Ar de diques máficos, Oceanização
Departamento Geofísica
Resumo

A transição entre o magmatismo de grandes províncias magmáticas (large igneous provinces, LIPs) e a geração de nova crosta oceânica durante estágios iniciais da evolução de riftes ainda é pouco conhecida e identificada enquanto registro geológico. Por meio do estudo da petrogênese, da dinâmica magmática e de novas abordagens geocronológicas, esta tese de doutoramento mostra que intrusões do tipo MORB e Paraná-Etendeka associadas à ruptura do paleocontinente Gondwana, no Domínio Tectônico de Cabo Frio (sudeste do Brasil) apresentam evidências da oceanização inicial das margens da América do Sul e África. O desenvolvimento de um protocolo para a geocronologia 40Ar/39Ar dos diques do tipo MORB do Terreno Tectônico de Cabo Frio proporcionou a diferenciação de registros magmáticos e de alterações pós-magmáticas. A encapsulação de alíquotas de amostras permitiu a análise de agregados de anfibólio e biotita de alta retentividade. As análises de cristais de plagioclásio leitosos e translúcidos revelaram idades aproximadas de alterações ricas em K e em Na. O mapeamento elemental de alta resolução de cristais de plagioclásio, associado às análises composicionais e isotópicas de rocha-total, foi capaz de determinar a mobilidade elemental causada pela migração de fluidos hidrotermais durante a evolução tectônica da margem. A idade de intrusão de um dique do tipo MORB foi determinada como 132.83 ± 0.30 Ma, correspondendo às fases finais do magmatismo Paraná-Etendeka. Cristais de plagioclásio alterados mostram que fluidos hidrotermais ricos em K, Na, Rb, Ba, Sr, Si, Li, Fe, Pb e Terras Raras leves percolaram a margem do rifte entre ~106-105 Ma e entre 60-30 Ma. O hidrotermalismo foi provavelmente provocado por interações entre magmas alcalinos e fluidos bacinais nas bacias offshore ao longo da margem sudeste do Brasil. Os dados de geoquímica de rocha-total, razões isotópicas de Sr, Nd e Pb, química mineral, termobarometria, modelos de balanço de massa e termodinâmicos, e mapeamento elemental de cristais de clinopiroxênio foram utilizados na modelagem de fontes mantélicas, evolução magmática e colocação dos diques do tipo MORB e Paraná-Etendeka. As intrusões do tipo LIP se assemelham aos basaltos de baixo-Ti Ribeira, e derivaram de uma fonte litosférica peridotítica metassomatizada correspondente a uma contribuição de 1-3% de manto litosférico subcontinental antigo (SCLM) a uma mistura de 100-96% de manto empobrecido (DMM) e 0-4% de piroxenito. Os diques do tipo MORB assemelham-se aos basaltos oceânicos do assoalho do Atlântico Sul e foram gerados por uma fonte astenosférica peridotítica consistindo em uma mistura de 100-98% DMM e 0-2% piroxenito enriquecida por uma pequena contribuição de 0.2-0.4% de SCLM. Ambas as suítes magmáticas evoluíram via cristalização fracionada de plagioclásio e clinopiroxênio em condições de pressões variáveis. Os múltiplos eventos de recarga responsáveis pelo magmatismo do tipo MORB sugerem o estabelecimento restrito de um sistema de caráter passivo depois de apenas ~2Ma do pico da atividade vulcânica Paraná-Etendeka. Combinações similares de magmatismo astenosférico e litosférico com influência de subducções anteriores nas fontes mantélicas podem ser encontradas em riftes globalmente, indicando que sucessivos processos de subducção associados à amalgamação continental contribuem para a posterior desestabilização das estruturas da crosta.