Astronomia cultural no ensino de astronomia?

Data

Horário de início

17:00

Local

Auditório 2 do Bloco Principal do IAG

Prof. Dr. Luiz Carlos Jafelice (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

Astronomia cultural trata de fatos sociais – sejam socioambientais ou históricos. O ensino de astronomia lida com os objetos e fenômenos de interesse e estudo da astronomia. Na prática, como ela se dá hoje, astronomia cultural e ensino de astronomia são conjuntos disjuntos. Apesar do nome – na verdade, inadequado, levando a confusões –, astronomia cultural não envolve nada daquilo que professores de astronomia são preparados para lecionar. O relevante naquela denominação é o adjetivo cultural, não o substantivo astronomia. Ainda assim, não no sentido de que “astronomia também é cultura”; não é isto. Os trabalhos em astronomia cultural têm tido um caráter transdisciplinar, envolvendo as disciplinas de antropologia, história, psicologia, linguística, astronomia, entre outras. As pesquisas em astronomia cultural dizem respeito, principalmente, às áreas de etnologia, arqueologia e história – as duas primeiras, de fato, são subáreas da antropologia. Assim, o cerne dos trabalhos em astronomia cultural está em antropologia, embora suas pesquisas se concentrem ora em etnoastronomia, ora em arqueoastronomia, além de algumas incursões em história da ciência. Como o estudo e práticas associados a estas áreas, em geral, estão completamente ausentes na atual formação dos professores de astronomia, estes não estão preparados para incluir conteúdos e atividades de campo de astronomia cultural em suas aulas. Contudo, sugerimos que isso não precisa continuar assim, se aquela formação for revista e ampliada, no sentido de contemplar tal inclusão. Neste seminário, levantamos essa problemática e começamos a aprofundá-la: fazemos breve histórico da origem da área de astronomia cultural, caracterizamos a pesquisa atual nessa área, discutimos em que consiste a transposição didática dessa pesquisa, apresentamos exemplos concretos envolvendo seu ensino na educação básica, analisamos dificuldades típicas no processo de atuação transdisciplinar exigido e propomos caminhos para a superação das mesmas, se houver disposição política por parte dos envolvidos. Discutimos, em particular, o que significa a adoção de uma abordagem antropológica no ensino de astronomia em geral. Por este caminho, chega-se à astronomia a partir de um percurso e perspectiva culturais e humanísticos, e não conteudistas e cientificistas, como costuma acontecer. Dentre as muitas vantagens pedagógicas e humanas, tal abordagem favorece a apreciação da ciência, em geral, e da ciência astronômica, em particular, como uma construção humana, sujeita a todas as vicissitudes, subjetividades e incertezas típicas de nossas construções – em vez do caminho superior, firme e seguro com que a ciência nos é anunciada quase sempre. Por aquela abordagem, ficamos mais abertos, estimulados e preparados para uma convivência multicultural cooperativa, respeitosa da pluralidade, solidária e acolhedora das diversidades, a começar pela diversidade epistemológica, como a demonstrada pelos conhecimentos tradicionais.