Estabelecimento do Consórcio Europeu do Observatório Cherenkov Telescope Array (CTAO) e a participação do Brasil

No dia 7 de janeiro de 2025, a Comissão Europeia oficializou o Observatório Cherenkov Telescope Array (CTAO) como um Consórcio Europeu de Infraestrutura de Pesquisa (ERIC), consolidando o maior e mais avançado observatório de astronomia de raios gama do mundo. Com sede na Itália, o CTAO ERIC conta com a participação de 11 países e da organização intergovernamental Observatório Europeu do Sul (ESO).

Esse reconhecimento viabiliza a construção de mais de 60 telescópios distribuídos entre os dois sítios de observação situados nas Ilhas Canárias e nos Andes chilenos. Esse marco consolida anos de planejamento e colaboração entre diversos grupos internacionais, incluindo a significativa contribuição brasileira, composta por instituições como o IAG-USP, IFSC-USP, CBPF, EACH-USP, IF-USP, UFPR, UniMackenzie, UNICID, UFABC, entre outras.

A participação brasileira no CTAO teve início em 2010, com a integração de um grupo de três pesquisadores brasileiros à colaboração. Desde então, foram formados três grupos CTAO-BR, cada um responsável pelo desenvolvimento de um dos três tipos de telescópios do CTAO: Telescópios de Pequeno Porte (SSTs, coordenados pelo IAG-USP), Telescópios de Médio Porte (MSTs, coordenados pelo IFSC-USP) e Telescópios de Grande Porte (LSTs, coordenados pelo CBPF). Os grupos paulistas obtiveram financiamento da FAPESP, enquanto o CBPF recebeu financiamento da FAPERJ. Esses recursos foram fundamentais para a participação brasileira no desenvolvimento dos protótipos dos telescópios e também garantiram a construção de um Precursor do CTAO, o ASTRI Mini-Array – um arranjo de 9 telescópios SSTs - em Tenerife.

Atualmente, novos financiamentos foram obtidos para a Fase de Construção do CTAO, iniciada em 2018 com o CTAO-Norte,  em La Palma (Ilhas Canárias). No CTAO-Sul, no Paranal (Chile), iniciou-se a construção da infraestrutura do local. Novos Projetos Temáticos da FAPESP, liderados por pesquisadores do IAG-USP e IFSC-USP, garantiram financiamento para a construção dos 40 SSTs do CTAO-Sul e de 9 MSTs, respectivamente. Adicionalmente, iniciativas coordenadas no Rio de Janeiro e no Paraná (via Fundação Araucária) asseguraram novos recursos para a construção dos 4 LSTs do CTAO-Norte e dos MSTs.

Além da instalação do primeiro LST no CTAO-Norte, nas Ilhas Canárias, outros três telescópios de grande porte serão implementados nos próximos dois anos. No CTAO-Sul, a previsão é que os primeiros cinco SSTs e dois MSTs sejam entregues no início de 2026. Essa infraestrutura permitirá que o CTAO inicie suas operações em configuração intermediária nos próximos anos, tornando-se o mais sensível instrumento para astronomia gama.

Participação nacional oficial em negociação

Durante a reunião inaugural do Conselho do CTAO ERIC, realizada em 12 de fevereiro de 2025, em Bolonha, Itália, os membros fundadores do consórcio – Áustria, República Tcheca, ESO, França, Alemanha, Itália, Polônia, Eslovênia e Espanha – aprovaram por unanimidade o início das negociações para a entrada do Brasil como Terceira-Parte do Observatório, a fim de garantir acesso aos dados observacionais para toda a comunidade científica brasileira. Atualmente, o Japão participa como Parceiro Estratégico, enquanto Suíça e Austrália possuem status de Observador e Terceira-Parte, respectivamente.

Além das negociações com o Brasil, a reunião definiu a nova liderança do observatório, substituindo o diretor anterior Federico Ferrini. O Conselho nomeou Stuart McMuldroch como Diretor-Geral do CTAO ERIC, encarregado de conduzir o consórcio em sua jornada rumo a novas descobertas científicas.

 

Profª. Drª. Elisabete Maria de Gouveia Dal Pino

Departamento de Astronomia