Análise do risco de mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias na população idosa da RMSP e sua projeção considerando o cenário RCP8.5 de mudanças climáticas

Autor Rafael Jonas Righi Batista
Orientador Fabio Luiz Teixeira Gonçalves
Tipo de programa Doutorado
Ano da defesa 2017
Palavras chave idosos; mudanças climáticas; mortalidade; risco; RegCM4
Departamento Ciências Atmosféricas
Resumo

As mudanças climáticas são uma realidade e tendem a afetar partes da população caracterizadas como mais vulneráveis. Nesse sentido, existe grande preocupação em relação aos impactos provocados por alterações do clima na crescente população de idosos da RMSP, dado que esta naturalmente apresenta condições limitadas de adaptação aos diferentes cenários térmicos. Nesse contexto, a mortalidade pode ser compreendida como o resultado final do impacto de variáveis meteorológicas na população idosa, especialmente nos casos em que o óbito é decorrente de doenças do sistema respiratório e cardiovascular. Para determinadas condições atmosféricas tem-se que, implicitamente, o risco de mortalidade por essas doenças é maior ou menor. Assim, é possível caracterizar mortalidade em função do seu risco e associá-la ao padrão climático atual. Neste trabalho, o risco é obtido a partir do método do valor esperado/observado, dado a partir da distribuição tanto do excesso quanto déficit de mortes em intervalos de determinada variável. Visto que trabalhos anteriores demonstram uma tendência de aquecimento para a RMSP, esta tese busca responder se tais mudanças projetadas tem potencial para modificar o balanço atual existente entre os riscos de mortalidade de idosos por frio e calor. Para tal, além da variável risco, dados de mortalidade do DATASUS e meteorológicos das estações do IAG e INMET, foram utilizadas simulações do modelo climático regional RegCM4 forçadas pelos membros do CMIP5 Hadclm, Hadctrl, MPIclm e GFDLclm, considerando um cenário pessimista de emissões de gases de efeito estufa, RCP8.5, para os períodos de 1975-2005 e 2065-2099. Na análise do efeito conjunto das variáveis temperatura e umidade relativa foi utilizado o índice de conforto térmico TAP. Os resultados obtidos mostram que maior parte da mortalidade de idosos por doenças respiratórias e cardiovasculares, de 1996 a 2014, é registrada nos dias quentes e úmidos ou frios e secos. Isso se traduz no risco de mortalidade calculado, que é maior nos extremos dos intervalos de temperatura, umidade específica e TAP. A subdivisão do risco nas zonas quente, neutra e fria é dada pelos limiares de 19°C e 25°C do TAP médio diário. Para elucidar o significado prático do risco quente um estudo de caso da onda de calor ocorrida no começo de 2014 é feito, apontando que houve 25 dias em sequência pertencentes a essa zona. Nesse período, foram contabilizados aproximadamente 370 óbitos de idosos em excesso. A contabilidade dos dias pertencentes a cada uma das zonas de risco ao longo dos anos recentes dá um valor aproximado de 250 dias na zona neutra e os 115 restantes distribuídos de forma equilibrada nas zonas quente e fria. Todavia, as projeções do modelo climático indicam que no futuro o cenário será diferente, havendo um aumento dramático no número de dias enquadrados na zona de risco quente (aproximadamente 150), em detrimento da zona de risco frio, que praticamente deixa de ser verificada. Outro fator relevante dá conta da identificação de 42 eventos com característica térmica similar à onda de calor de 2014, nos dados de 2065-2099, indicando que no futuro, eventos desse tipo podem ocorrer com maior frequência na RMSP, aumentando de forma significativa a mortalidade de idosos locais. Com base nesses resultados, é respondida a questão posta inicialmente, indicando que caso as condições representadas pelo cenário RCP8.5 sejam concretizadas, haverá forte tendência para que o balanço existente entre as mortes de idosos provocadas pelo frio e calor, por doenças respiratórias e cardiovasculares, seja modificado. Por fim, sugere-se que tais resultados, inseridos no âmbito do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Mudanças Climáticas da USP, sirvam à sociedade no sentido de auxiliar a tomada de decisões que objetivam mitigar os impactos negativos decorrentes das mudanças do clima, projtadas para a RMSP.

Anexo t_rafael_j_r_batista_corrigida.pdf